Post by Deleted on May 28, 2014 15:31:37 GMT -3
Nome: Time and Eternity
Produtora: Imageepoch
Gênero: JRPG
Plataforma(s): Playstation 3
Versão analisada: Japonesa
Tempo e eternidade
Time and Eternity é o mais novo lançamento da Imageepoch, produtora de Sol Trigger (PSP) e Black Rock Shooter The Game (PSP), para Playstation 3.
O primeiro e último
Time and Eternity veio ao mundo sendo apresentado pela própria Imageepoch como “o primeiro RPG em animação HD” da história. Pois bem, o jogo foi lançado, mas…
A propaganda da produtora japonesa não passa de uma grande farsa. Não existe animação nenhuma no jogo a não ser as CGs em anime de abertura e encerramento. De resto, há apenas personagens e monstros em sprites HD, com alguns pequenos sets de movimentos que mais parecem um slideshow, de tão visível que é a falta de quadros. Nos campos para a exploração a coisa fica ainda mais deprimente, com a personagem praticamente colada no centro da tela e todo o cenário ao redor se movendo, digno daqueles minigames vendidos em camelôs nos anos 90. Por conta disso, os controles acabam ficando idênticos aos da série Resident Evil, ou seja, a desengonçada e arcáica jogabilidade rotatória, ou “jogabilidade de tanque de guerra”.
Mas a parte mais engraçada desse circo é a interação de cada personagem com o ambiente. O jogo é, basicamente, todos esses sprites jogados dentro de um mesmo cenário, dando loop em seus limitados sets de movimentos e deixando tudo ainda mais artificial do que já é. São raríssimas as vezes onde a produtora teve empenho em fazer pequenas cenas onde sprites diferentes realmente coexistam, e mesmo esses momentos são reciclados à exaustão durante as horas de jogo. É hilário ver todos os personagens se “moverem” o tempo todo, mesmo sem a menor necessidade para tal (só para falar que se movem), parecendo que todos eles sofrem de hiperatividade e deficiência mental. A coisa melhora um pouco durante as batalhas, que também são bem artificiais, mas a sensação de colisão causada pelos sprites é bem menos amadora. Se há algo bom nas “animações” do jogo é a sensação de nostalgia – bons momentos (ou não) com aqueles adventures animados bizarros de PC Engine, também nos anos 90.
O cenário é também outra parte lamentável do título. Os ambientes são, inexplicavelmente, áreas 3D da pior qualidade, dígno de trabalho de início da geração passada. Se já não bastasse, a produtora não consegue nem ao menos extrair o potencial artístico do título (um dos únicos pontos positivos, por sinal), resultando em áreas genéricas e repetitivas.
E ainda há muitos aspectos negativos, como a total falta de sincronia labial, lamentável para um título auto-afirmado “animação”, quedas constantes de taxa de quadros por segundo e loadings pertinentes para um jogo que exige 40 minutos de instalação e mais de 4GB de espaço no HDD, citando alguns exemplos. O raio de luz nesse poço fica por conta de OST, que em geral é mediana, mas possui uma ou outra faixa bem trabalhada e agradável aos ouvidos. Ao menos isso.
Produto para ninguém
Muitas vezes as aparências enganam, como a série Atelier, que tem arte que apela mais para o público feminino, mas consegue conquistar os dois sexos com seu conteúdo jogável. E em Time and Eternity?
No jogo, a heroína Toki (e sua alter-ego Towa) viaja no tempo para salvar seu futuro esposo da morte certa no dia do casamento. Um tema que, visto por alto, é de se deduzir que o público-alvo sejam as garotas. E tudo no jogo indicava que era esse o rumo, já que o mesmo destaca bastante coisas como os sentimentos das garotas e o comportamento delas quando estão conversando em um grupo de amigas, por exemplo. “Era” esse o rumo, já que o jogo contém inexplicáveis cenas e situações maliciosas típicas de jogos orientais voltados para o público masculino, como cenas sensuais das meninas ou conversas de duplo sentido, tudo aplicado de forma muito forçada e desnecessária, deixando a clara impressão de que esse tipo de conteúdo foi colocado as pressas. Não se trata mais de público-alvo, de conteúdo amplo, se trata de um jogo que quis agradar dois opostos e agrupou o pior tipo de conteúdo possível para tal, fazendo com que ambas as partes se sintam, no mínimo, constrangidas perante o resultado final.
A história, apesar da descrição acima, é bem leve e voltada ao humor, que infelizmente é completamente estragada pelas péssimas cutscenes “animadas” e sincronia labial nula, somados ao elenco que são mais uma materialização de clichês orientais da pior espécie, resultando em um “Zorra Total” japonês, que mais dá vergonha ao jogador que o faz rir (um verdadeiro desperdício para o excelente trabalho de dublagem). Hoje em dia é muito difícil criar algo original, é verdade, mas utilizar clichês e mesmo assim fazer algo bom faz parte da rotina de uma produtora competente, coisa que a Impageepoch provou não ser de todas as maneiras possíveis com esse jogo. A única real salvação de tudo é Drake, o dragãozinho azul de estimação de Toki, com sua personalidade exótica e realmente divertida no mar de sorrisos amarelos gerados pelo título.
Bem-vindos ao reino de Boredom!
Time and Eternity é basicamente sobre andar em grandes terrenos, batalhar, ver eventos e realizar sidequests, tudo isso em um world map que divide cada área com pontinhos, mesmo estilo da série Super Mario Bros 2D.
As “dungeons” do jogo são os já citados terrenos, que, dividos, se resumem a campos abertos enormes ou corredores bem longos. O problema do jogo é que ele literalmente só tem esses dois tipos de ambiente, sem design, sem desafio, sem puzzles, sem switches, sem rotas alternativas, sem nada especial, apenas batalhas aleatórias, baús e eventos espalhados sem razão pelos cantos. Tudo isso, somado ao visual pobre e genérico, resultam nas “dungeons” mais sem sal e cansativas, na exploração mais chata que um JRPG já teve em dezenas de anos.
As batalhas são em tempo real com movimentação limitada, pois a personagem e os inimigos atacam quando quiser, mas só se movem para frente, para trás e esquivam para os lados. Além dos básicos ataques à distância com rifles, corporais com a adaga e o uso de magias ofensivas e defensivas, é possível também usar um interessante sistema de magias de tempo, que podem congelar o alvo, fazer Toki/Towa triplicarem sua velociade ou até mesmo voltar um pedaço do tempo e evitar golpes fatais ou um status negativo. O jogador é acompanhado também de Drake, controlado pelo computador, que ocasionalmente ataca os alvos e cura a heroina.
Vendo o sistema de batalhas por si só, dá pra considerá-lo divertido, se não fosse por uma série de erros e defeitos do jogo.
A começar pelo “genial” sistema de ficar alternando a personalidade da heroína entre Toki e Towa. Até aí tudo bem, cada uma tem suas particularidades, como eventos e cutscenes particulares, tipo de magias, perícia em armas diferentes e até alguns combos e habilidades únicas. O problema é que elas só alternam com o aumento de um nível! Em partes onde uma é mais efeciente que a outra, o jogador se vê preso em três saídas: ficar lutando em outro lugar até subir um nível, usar itens que evitam batalhas e passar o local inteiro sem lutar, ou usar um item que força a troca de alter-ego, esse último encontrado muito raramente pelo jogo. Sistema completamente desnecessário e sem propósito algum a não ser rir da cara do jogador.
Outro problema é a sequência de batalhas. Os inimigos geralmente vêm em grupos, mas ao invés do jogador lutar contra todos eles ao mesmo tempo, é um de cada vez. O problema desse sistema é que ele não é nada balanceado. Alguns inimigos demoram muito para serem derrotados, mas mesmo assim, eles chegam em grupos de 3, 4….8 deles, deixando as batalhas cansativas, enjoativas, chatas.
Falou em desbalanceamento, falou também em dificuldade. O jogo é, na maioria esmagadora do tempo, fácil, já que as magias são extremamente poderosas, capazes de matar inimigos com 1, 2 tiros. O problema fica com inimigos resistentes a magias, ou que simplesmente não dão tempo para o jogador utilizá-las, pois, se não possuem nenhum tipo de apelação como matar a heroína com um combo só ou recuperar 100% do HP toda hora, demoram uma eternidade para serem derrubados, frustrando o jogador em dobro – com a facilidade extrema e com as ocasionais batalhas que demoram demais.
Os inimigos também não ficaram de fora da dança, já que eles são, literalmente, umas 10 espécies (incluindo chefões), cada uma com várias cores e nomes diferentes, mas todos com a mesmíssima sequência de ataques. Aliás, um monstro de RPG nunca se comportou de forma tão “educada” como em Time and Eternity, pois não importa a situação, local ou o que for, eles vão repetir sempre as mesmas coisas, sempre na mesma ordem. Enjoativos no visual e na hora do combate. O jogo tentou variar um pouco com batalhas diferentes para alguns chefes, como se fosse uma espécie de tiro em terceira pessoa, o que é uma boa idéia, se não fosse pelos controles desengonçados e completamente lentos para tal, uma grande pena.
Para completar, há o sistema de evolução. Junto com pontos de experiência, o jogador adquire GP, ou Gift Points, necessários para comprar habilidades, magias e habilidades passivas. O problema do sistema é que não basta apenas juntar os pontos para finalmente comprar os upgrades, é preciso comprar os upgrades e subir um nível da personagem para só então as garotas aprenderem os novos poderes. Burocracia sem o menor sentido, já que cada habilidade já possui uma restrição de uso por níveis.
Boredom Plus!
Time and Eternity dura cerca de 20 horas para ser terminado com todas as sidequests e ver os dois finais disponíveis, e 30 horas para fazer 100% do jogo e obter o troféu de platina. Essas 10 horas adicionais se devem ao fato de existir um “New game plus”, que não adiciona nada de novo a não ser um final secreto, que absolutamente não vale o tempo gasto e consegue ser muito inferior aos finais comuns.
O jogo conta com um sistema de sidequests que podem ser realizados a qualquer momento assim que disponíveis. Mas nem os extras escapam da maldição do jogo, pois eles são extremamente repetitivos (Volte à dungeon “A”, adquira item “X”, mate inimigo “Y” e reporte ao NPC “B”, resumindo basicamente as dezenas de atividades opcionais), com histórias desinteressantes repassadas por NPCs ainda menos atraentes, pois as dezenas que aparecem são os mesmos 4 NPCs com cores diferentes.
Caso o jogador tenha dinheiro sobrando e não saiba aonde e com o quê gastar, pode estar jogando fora suas economias no lixo com os conteúdos para download, como itens usáveis (que podem ser comprados normalmente e sem muito esforço durante o jogo) e novas sidequests. “Novas”, já que são as mesmas coisas de sempre, com os mesmos inimigos de sempre com outras cores, tudo isso custando cerca de 7 dólares cada conteúdo avulso.
O espelho da desgraça
Time and Eternity é daqueles jogos que provavelmente apareceram apenas para serem detonados por todos os cantos e salvar a imagem de dezenas de outros títulos, tamanho a desgraça que é. Caso contrário, não há lógica que explique a razão da Imageepoch soltar uma “pérola” dessas no mercado, não depois de todo o hype levantado por ela mesma. Um dos piores JRPGs de todos os tempos.
Nota: 2
jogadorpensante.com/2012/10/29/tomios-review-toki-to-towa/