Post by Deleted on Jun 6, 2014 21:04:49 GMT -3
Nome: The Legend of Heroes VIII: Trails of Flash
Produtora: Falcom
Gênero: JRPG
Plataforma(s): Playstation 3, Playstation Vita
Versão analisada: Playstation 3, japonesa
Trilhas do Corte
The Legend of Heroes VIII: Trails of Flash (Eiyuu Densetsu: Sen no Kiseki no Japão) (será abreviado nesse texto para “ToF”) é o sexto jogo canônico da subsérie Trails, que ganhou força e está praticamente independente da franquia The Legend of Heroes. O título é o primeiro a chegar a mais de uma plataforma de uma vez, no caso, o Playstation 3 e o Playstation Vita.
Gaguinho
ToF é o primeiro trabalho da Falcom totalmente em 3D. Para a primeira experiência, o jogo é visualmente decente, com personagens bem expressivos e muito bom aproveitamento do material artístico – é possível observar, por exemplo, um trem atravessando uma ponte no plano de fundo durante a exploração de uma estrada ou uma aeronave cortando o céu em um extenso planalto enquanto os personagens andam a cavalo. Vale lembrar que o título não é nenhum primor técnico, mas considerando que o resultado apresentado é comparável ou até melhor que o de muitas produtoras de mesmo ou maior porte que levaram vários jogos para alcançar, é um feito louvável.
A parte sonora é outro destaque – Mais um trabalho fenomenal da Falcom nesse quesito: são mais de 90 músicas, sendo elas desde orquestradas a melodias com flautas e violão, que cobrem cada momento do jogo com maestria. O mais interessante é que a grande maioria das músicas do jogo possui um toque “old school”, lembrando bastante títulos das gerações passadas.
Os loading também são bem rápidos e a taxa de quadros por segundo geralmente é estável, caindo um pouco apenas em batalhas com muitos inimigos gigantescos na tela, mas nada prejudicial. Infelizmente, tudo isso só veio dois meses após o lançamento através de patches de correção, pois o jogo até então possuía longos períodos de carregamento e “engasgadas” a cada novo cenário. Até mesmo o recurso de passar cenas em alta velocidade e o famoso monstro especial Shining Pom foram adicionados depois. Ponto negativo para a Falcom pela pressa em lançar logo o seu jogo e apresentar por conta disso um produto um tanto cru para o jogador.
Trails of Persona Type-0
ToF começa uma nova saga no universo Trails, apresentando dessa vez personagens de Erebonia, o império que até então poderia ser considerado, de certa forma, uma nação inimiga. O jogo se passa paralelamente entre Trails of Zero e Trails of Azure, e obviamente, o jogador precisa ter conhecimento de todos os cinco jogos anteriores para total compreensão do que vai acontecer e do que vai aparecer durante a aventura. Apesar disso, por se tratar de um novo arco, o título acaba sendo até certo ponto independente e compreensível para os iniciantes da série, podendo até mesmo incentivar as pessoas a jogarem depois os anteriores em busca de mais detalhes.
Um dos maiores destaques de ToF, assim como todos os seus antecessores, é sua ambientação – tudo no jogo é minunciosamente detalhado e vivo, e com a ajuda de todo o massivo conteúdo apresentado ao longo dos jogos anteriores, forma um dos universos mais ricos que uma série pode ter em um videogame. É interessante observar que um passo do jogador significa, ao mesmo tempo, um passo de todas as outras dezenas de personagens, sejam principais ou NPCs: praticamente todo o elenco do jogo é trabalhado individualmente, seguindo cada um sua rotina, desenvolvendo seu papel no jogo e mostrando suas características ao longo da trama. No final, o jogo não tem apenas sua história principal, como também dezenas de pequenas histórias paralelas. Por exemplo, é possível acompanhar a história de uma NPC que se apaixona loucamente por um colega, entra no clube de culinária e se torna chefe de cozinha só para conquistar quem ela admira no garfo, rendendo ao longo do jogo sidequests e outros extras.
Enquanto na trilogia Trails in the Sky o tema era os Bracers (uma entidade que protege cidadãos) e na saga Crossbell a história se desenvolvia em torno da polícia, ToF conta a história de Rean e outros estudantes da escola militar Thors, mais especificamente de alunos da classe especial “Número VII”, cujos motivos de estarem juntos são revelados aos poucos ao avançar na trama. Um ponto interessante é que o jogo não faz questão de criar um elenco formado apenas de protagonistas complexos e com backgrounds trágicos; Há todo tipo de personagem na classe, desde pessoas com um passado um tanto obscuro a outros que levaram até então uma vida simples e feliz. Toda essa mistura, no entanto, não afeta na qualidade individual de cada um, sendo todos muito bem trabalhados em personalidade e carisma, mostrando seus gostos, medos, diferenças e semelhanças, além de ser perceptível que todos vão, aos poucos, ganhando maturidade para lidar com as situações.
A dublagem do jogo é um tanto morna: sem grandes destaques, mas sempre mantendo um nível aceitável. O que mais prejudica esse elemento do jogo, no entanto, não é exatamente a atuação dos dubladores, mas sim a quantidade escassa de cenas dubladas, problema que persiste desde Trails of Zero. Alguns personagens consideravelmente importantes para o universo Trails sequer receberam uma linha de voz, deixando aquela sensação de “meio termo”, aquela vontade de exigir “ou dubla tudo ou não dubla nada”.
O enredo tem seus altos e baixos: de um lado, há algumas situações clichês e outras que dão vergonha de assistir – algumas influenciadas diretamente pela falta de qualidade técnica, pois é visível que queriam colocar algo épico (e que realmente ficaria, com um pouco mais de empenho). Do outro, constrói muito bem a atmosfera que o jogo quer passar, detalha bem Erebonia e usa e abusa dos paralelos com a saga Crossbell para revelar informações interessantes, ou até mesmo contar algo já revelado por uma perspectiva diferente. O principal destaque fica para a reta final, com uma avalanche de reviravoltas, novas revelações e novos elementos, elevando o anseio do jogador pela continuação a níveis estratosféricos e fechando o capítulo introdutório da Saga do Império de forma magistral, sem ser tão cruel quanto o cliffhanger de Trails in the Sky First Chapter.
A força do elo
ToF deixa de lado a progressão livre de Trails of Zero e Trails of Azure para voltar a uma aventura mais linear como foi o primeiro jogo da saga, Trails in the Sky First Chapter; ou seja, a liberdade e exploração se limita ao local das missões principais do momento, sem opções de backtracking para outras cidades e/ou dungeons distantes. Mas, assim como seu antecessor, isso não significa que o jogo é repetitivo, “corredor” ou monótono, já que uma vez em um certo local, o jogador é livre para explorar quando e quantas vezes quiser ou for preciso.
A exploração do jogo é dividida basicamente em três partes: Cidades, dungeons e estradas. As cidades geralmente são divididas em áreas e variam em tamanho, com quantidade e variedade consideráveis, ressaltando bem o bom trabalho artístico da Falcom; As dungeons seguem o padrão da série, com calabouços sem muita complexibilidade, apenas no ponto certo para a exploração ser prazerosa e não ser cansativa; As estradas, por sua vez, são a questão do jogo: normalmente (e pela lógica), elas são uma espécie de dungeons mais simplificadas para interligar cidades ou levar para outras dungeons, mas em ToF isso quase não acontece – Por questões de enredo (por exemplo, ter tarefas mais importantes para resolver na hora, ser muito longe do objetivo principal, ter pouco tempo…), o jogador fica impossibilitado de ir para o “outro lado” dessas estradas diversas vezes, tornando-as então uma série de “corredores” sem saída. Faz sentido para a história, mas deixa o conteúdo do jogo um tanto estranho, com um aspecto de inacabado (ainda mais se comparado à estrutura dos jogos anteriores). Durante a andança, podem ocorrer também os Active Voices, comentários em tempo real dos personagens do grupo, que variam desde coisas bobas como “olha, um baú” a opiniões importantes sobre o enredo naquele momento; ótimo recurso para deixar a narrativa mais dinâmica, sem precisar interromper o jogo constantemente com cutscenes.
Entre um capítulo e outro, os personagens passam o tempo dentro de Thors, como uma espécie de “intervalo”. Nela, podem ocorrer diversos tipos de atividades, desde as de um estudante comum, como atividades de clube, grupos de estudo e interações com outros estudantes, a outras mais específicas, como teste prático de combate e exploração de um prédio antigo da escola, que se tornou em uma dungeon. O interessante é que, além de ajudar a variar bastante o gameplay, tudo que foi citado tem sua importância, já que revelam informações importantes sobre o universo do jogo, mostram curiosidades sobre os personagens e melhoram os recursos disponíveis na hora dos combates.
Ser atento é a palavra chave não só deste, como de qualquer Trails, pois a cada pequena progressão, tudo ao redor pode mudar: NPCs podem estar fazendo outras coisas em outros lugares (e, consequentemente, falando/revelando coisas novas), sidequests secretas podem surgir, itens temporários podem ser adquiridos e a forma de concluir uma mesma missão pode mudar. Tudo isso resulta em mais ou menos pontos extras no boletim escolar, que por sua vez resultam em boas premiações com itens extremamente úteis para a jornada – além de útil, torna a intensa exploração mais prazerosa e motivadora. O jogo leva destaque nesse ponto pelo sistema de navegação muito mais facilitado em relação aos seus antecessores, com adição de um mapa dentro das dungeons, indicadores de eventos e sub-eventos importantes, entre outras coisas; Isso pode ser ruim e bom ao mesmo tempo: ruim por quebrar a tradição da série em ser um jogo mais “manual” e desafiante, que exige mais atenção e raciocínio lógico do jogador nos diálogos e dicas; Bom por ajudar a evitar partes monótonas, como procurar por algum item ou NPC quando o jogador não tem nem idéia de onde eles estejam, por exemplo.
Uma coisa que chama a atenção é o número de personagens jogáveis para o primeiro jogo de um novo arco: logo de cara, ToF apresenta 9 personagens na party principal, fora os temporários e os que entram posteriormente. Apesar do numero massivo, infelizmente em grande parte do tempo o jogador vai lidar com uma party com no máximo 1 ou 2 reservas, tendo todos à disposição de verdade somente nos momentos finais. Por outro lado, essa dosagem imposta pelo enredo acaba ajudando o jogador a se acostumar com e saber aproveitar o potencial de cada um dos protagonistas.
Um dos destaques da aventura é a variedade de locais e situações, não deixando a partida repetitiva em nenhum momento. Por exemplo: em dado momento, o jogador precisa explorar estabelecimentos subterrâneos de uma cidade; em outra ocasião, a dungeon é um campo aberto enorme, onde os personagens exploram cada canto usando cavalos.
As batalhas são o velho sistema de turnos com algumas mudanças. O tradicional aspecto tactics da série foi retirado para deixar as lutas mais soltas, sem se basear em “quadradinhos” no posicionamento. Ainda assim, o funcionamento básico foi mantido: arts (magias) e crafts (skills) de área dependem do posicionamento dos inimigos e/ou aliados no terreno afetado pelos recursos, e as magias necessitam de um tempo de conjuração antes de finalmente serem utilizadas. Outro dos aspectos mantidos foram os bônus aleatórios dos turnos, que concedem diversos efeitos para aliado ou inimigo, como critical hits ou recuperação de HP, por exemplo. Os tradicionais especiais, ou Super Crafts também fazem sua aparição em ToF, podendo ser acionados a qualquer momento da batalha, bastando ter Craft Points (o equivalente a AP) suficientes para isso (infelizmente, cada personagem possui apenas um no jogo todo, quantidade incomum para série, já que o esperado seria de 2 a 3 S-Crafts por personagem). Das novidades, as duas principais são as opções de trocar personagens da party por reservas durante as lutas e o Link System, sistema que forma pares similar ao de Tales of Xillia, que necessita da já citada interação entre personagens durante os períodos na escola para evoluir. Em estágios avançados, os personagens adquirem skills úteis, como recuperar HP do parceiro injuriado instantaneamente ou tomar o golpe no lugar dele, tudo dependendo de quem estiver conectado com quem. Todas essas características fazem com que as batalhas tenham um teor estratégico aprofundado e ajudam a deixar as lutas mais divertidas (ou menos monótonas), mesmo depois de um bom tempo de jogo.
O bestiário é bem variado e numeroso, mas o principal destaque dele não é nenhuma dessas duas características; O que chama a atenção é o aspecto orgânico dos monstros: um mesmo inimigo pode ter tamanhos variados, alterando, consequentemente, seus stats, e em casos extremos, até a forma de derrotar.
Uma mudança drástica aconteceu no orbment, o sistema de customização do jogo: chamado de ARCUS em ToF, o novo sistema abandona a velha formula de misturar quartz, equivalentes às Materias de Final Fantasy VII, que concedia arts poderosas e/ou aumento de stats dependendo da combinação – agora cada quartz possui sua própria art e/ou aumento de stats definidos. Isso faz com que o sistema perca seu enorme leque de possibilidades, porém, faz com que vícios de combinações acabem e aumenta as exigências estratégicas para cada situação e personagem, obrigando o jogador a explorar melhor diferentes quartz por não existir mais um set “perfeito”. O sistema possui também os Master Quartz, pedras especiais que evoluem junto com os personagens e concedem diversos benefícios, como várias arts de uma vez, aumento considerável de stats e outras características únicas, como aumento do drop rate de itens ou mesmo buffs temporários no início das batalhas. Além de expandir as opções do jogador, as Master Quartz acabam sendo uma diversão extra, pois é bem interessante elevar seus níveis para descobrir o potencial de cada uma das dezenas de pedras disponíveis.
Outra mudança se encontra no sistema de culinária, utilizado para criar itens de cura ou ofensivos com características especiais. Dessa vez, apenas personagens específicos podem criar receitas especiais, abandonando a idéia de ser muito baseado em sorte e levando o sistema para um lado mais estratégico, pois a única questão será o jogador precisar administrar bem seus ingredientes.
A dificuldade do jogo é, em geral, bem dosada e equilibrada, exigindo bom uso de buffs, debuffs e equips de proteção contra bad stats para se ter uma jogatina tranquila. Outro ponto bem balanceado são os personagens, todos com características e crafts bem distintos, não tendo nenhum muito superior ou inferior. O que ajuda bastante nesse ponto é o sistema de Weak Points, onde os inimigos são fracos ou resistentes contra as armas de cada personagem: por exemplo, se um inimigo é fraco contra “corte” e Rean, que usa uma katana, acertar um critical hit, o oponente sofre um nocaute, dando espaço para o jogador desferir diversos tipos de ataques combinados proporcionados pelo Link System. Talvez o único ponto negativo nesse assunto seja a questão financeira do jogo, pois não é difícil pro jogador se encontrar em uma situação exageradamente complicada economicamente, e sem previsão de contorno.
Agora, um dos principais problemas do jogo: a batalha final. Na verdade, ela é mais como se fosse uma prévia do que o jogador pode esperar pro próximo jogo do que a última luta propriamente dita, pois se analisar aspectos como o clima e o contexto, o verdadeiro chefão é enfrentado alguns momentos antes. O confronto em questão é entre robôs, elemento inédito na série, apresentando uma jogabilidade levemente diferenciada das batalhas comuns. O problema é que o sistema é muito cru, ou simplesmente raso, resultando mais em um minigame de pedra-papel-tesoura do que uma batalha de verdade. Para piorar a situação, a luta é muito influenciada por sorte, já que o inimigo acertar critical hits ou não muda drasticamente o rumo do duelo. Por causa disso, em casos de low level ou jogatinas no nível de dificuldade mais elevado, o confronto pode se tornar frustrante e completamente quebrado.
História de pescador
ToF tem um tempo médio de 50 horas se realizadas todas as quests opcionais.
Como extras, o jogo possui o tradicional minigame de pesca, mas dessa vez totalmente reformulado para algo mais interativo, exigindo um pouco de coordenação do jogador para finalmente poder tirar os peixes da água. Há também um minigame de cartas com regras originais chamado Blade, um de natação que exige ritmo para dar as braçadas e mais alguns exclusivos perto do final do jogo. Em geral, as atividades opcionais são divertidas e bem variadas, mas, tirando o de pesca, todos sofrem por serem extremamente limitados, pois o jogo dá apenas algumas oportunidades em momentos específicos para apreciá-las, além de não terem mecânicas muito aprofundadas e/ou bem aproveitadas.
O jogo possui também algumas sidequests durante as missões principais, sendo elas adquiridas junto com as obrigatórias ou escondidas, necessitando que o jogador vá procurar o “gatilho” para ativá-las. O ponto forte novamente é a variedade: em uma, o jogador precisa bancar o vendedor, calculando descontos para os produtos vendidos para não sair no vermelho; Em outra, o detetive, investigando um caso de roubo e indo atrás de pistas, citando só alguns casos. O único ponto fraco, infelizmente, é a quantidade, já que o jogo apresenta um número bem pequeno delas, dando um forte sentimento de “quero mais”; Isso se torna ainda mais evidente para quem jogou os jogos anteriores, onde os opcionais eram abundantes e nem por isso perdiam em qualidade.
ToF é também o primeiro da série a apresentar roupas alternativas para os personagens, como nos jogos da série Tales of. E, assim como os RPGs da Namco, os mesmos problemas de DLC persistem, tendo poucas roupas relevantes ingame e os mais interessantes disponibilizados apenas por salgadas taxas extras.
Outro aspecto que pode decepcionar um pouco é a completa ausência de áreas opcionais e/ou chefões secretos, elementos que sempre estiveram presentes na série.
Por outro lado, para quem gosta de saber mais sobre o universo Trails e de uma boa leitura, o título não decepciona, disponibilizando vários jornais e livros informativos, e até mesmo uma série fictícia separada em vários livretos.
Volta pro forno
Trails of Flash possui boa longevidade, mas não apresenta a mesma qualidade de seus antecessores: Além dos extras e S-Crafts bem escassos, tem problemas técnicos um tanto sérios, algumas mecânicas que carecem de aprofundamento e falta de elementos tradicionais que só foram corrigidos/adicionados depois de um bom tempo de lançamento, dando uma forte impressão de que o jogo foi lançado muito prematuramente. Apesar disso, cumpre seu papel como capítulo introdutório de uma nova saga, pois prepara bem o terreno para que sua continuação tenha grandes chances de ser impecável, tanto em enredo quanto em gameplay, devido à base já estar toda pronta.
Nota: 7,5 (Aperitivo)
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